No centro da mais nova exposição do Museu de arte de Israel está uma imponente estátua de Jesus em tamanho natural, feita de mármore. A escultura, que tem o nome de “Cristo perante o Tribunal Popular” parece muito com as imagens clássicas das igrejas europeias. Contudo, é vista com estranheza na terra onde muitos judeus se sentem desconfortáveis com a ideia de chamar Jesus de messias.
O salvador usa um kipá, mostrando sua identidade judaica. Esse detalhe revela que ela foi esculpida por um artista judeu. No caso, o russo Mark Antokolsky.
Ela é parte de uma coleção de mais de 150 obras de arte, criadas por 40 artistas judeus, que retratam imagens cristãs. O tema da exposição é justamente a maneira como artistas judeus, sionistas e israelitas veem a figura histórica do judeu mais conhecido do mundo.
Mas isso está gerando críticas ao museu de Israel.
Ao longo da história, os judeus tradicionalmente evitam falar sobre Jesus e seu evangelho. Embora reconheçam que ela nasceu em sua Terra Santa, os judeus do moderno Estado de Israel mantém a resistência ao cristianismo.
Isso é consequência, principalmente, de séculos de antissemitismo, especialmente na Europa, onde a crucificação de Jesus sempre foi usada como uma desculpa para perseguir judeus.
“Estamos falando de uma tensão de 2000 anos de idade, entre judaísmo e cristianismo, além de o fato de o antissemitismo ter florescido no pensamento e na teologia cristã”, explica o curador da exposição Amitai Mendelsohn.
Ele reconhece que esse é “um assunto delicado” para os judeus em toda parte, especialmente em Israel, mas acrescenta que os artistas “por natureza são atraídos para algo que é proibido”.
Ziva Amishai-Maisels, professora da Universidade Hebraica de Jerusalém, especializado no estudo das imagens cristãs na arte judaica, disse os judeus mais religiosos estão se opondo à exposição.
Algumas das obras, também poderiam ofender os cristãos piedosos, acrescenta. “Eles podem interpretar as imagens como um sacrilégio, mas os textos que as acompanham explicando seu objectivo devem ser o suficiente para acalmá-los”, ressalta.
Para Ronit Steinberg, um historiador de arte da Academia Bezalel de Artes e Design de Jerusalém, acredita que a maneira como os judeus percebam a figura de Jesus mudou ao longo dos anos, mas todas possuem uma linha comum.
Tome, por exemplo, a “Crucificação Amarela”, pintada em 1943 por Marc Chagall. A pintura mostra Jesus representando todos os judeus perseguidos pelos nazismo. O tom de amarelo de sua pele reproduz o amarelo das estrelas que os nazistas forçavam os judeus a usar. Além disso, Jesus está na cruz envolto por um xale de oração e filactérios usados pelos judeus nas sinagogas.
O quadro “Seis milhões e 1” do artista Moshe Hoffman, um judeu húngaro que sobreviveu ao Holocausto, questiona o silêncio dos cristãos durante o genocídio. A peça mostra um guarda nazista tentando tirar Jesus da cruz para se juntar à fila de prisioneiros, ele seria então o judeus número 6.000.001.
Como a exposição é organizada em ordem cronológica, as obras criadas nas últimas décadas revelam que os judeus israelitas usam a iconografia cristã para questionar a sua identidade política e nacional.
Talvez a obra de arte contemporânea mais conhecida é a versão da “A Última Ceia”, de Adi Nes. Ela substitui a imagem clássica de Leonardo da Vinci colocando soldados israelitas no lugar de Jesus e seus apóstolos.
Segundo o Washington Post, apesar das polémicas, a imagem de Jesus, pelo menos na arte, parece ter ficado cada vez mais popular e aceitável para os judeus.
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