O Vaticano anunciou na sexta-feira (5) que dois papas católicos, já falecidos, serão canonizados: João Paulo II e João XXIII. O estudioso de religiões e crenças, Johnny Bernardo, acredita que essa é mais uma evidência que a Igreja Católica pretende reverter seu declínio, por meio do diálogo ecumênico, e não, propriamente, por um confronto direto com as várias ramificações do protestantismo. Essa linha já funciona há algum tempo, por exemplo, com a escolha do argentino Jorge Mario Bergoglio, um defensor da ampliação do diálogo com as várias ramificações do catolicismo e do protestantismo, para o papado.
A canonização de João Paulo II aconteceu após o reconhecimento de um segundo milagre. O polonês Karol Wojtyla nasceu em 1920 e liderou a Igreja Católica entre 1978 e 2005, quando morreu.
Em entrevista ao The Christian Post, Bernardo lembra que existem contestações à suposta cura da freira Marie Simon-Pierre, chave para a beatificação: “segundo declaração de um jornal polonês, publicada à época da indicação de João Paulo II a beato, Marie não sofria do Mal de Parkinson, mas de uma desordem nervosa, cuja recuperação é medicamente possível”.
João XXIII pontificou entre 1958 e 1963, era chamado de Papa Bom, e, apesar de não haver nenhum milagre formalmente atribuído a ele, papa Francisco considerou que a canonização é merecida na sexta-feira (5).
Para o estudioso, as canonizações apontam mais para a escolha de pontífices articuladores do que para questões milagreiras e virtuosas.
Johnny Bernardo explica que a canonização é o processo pelo o qual um beato é reconhecido como santo. Ele conta que essa é uma prática comum na história da Igreja Católica Apostólica Romana.
O estudioso nota que João XXIII, em dezembro de 1961, convocou, por meio da bula papal Humanae salutis, o Concílio Vaticano II, com o objetivo de dar um novo formato à Igreja, com adaptação da liturgia aos tempos modernos, e de abrir um canal de comunicação com as comunidades cristãs.
Bernardo diz que essa é mais uma prova da busca do diálogo entre catolicismo e protestantismo . “João Paulo II, apesar de conservador em alguns aspectos, era um ferrenho defensor do Concílio Vaticano II e, por extensão, do diálogo ecumênico”, completa.
Esse posicionamento da Igreja já vem sendo trabalhado há algum tempo e tem relação com o Brasil para o entrevistado: “Na verdade, a escolha de Francisco como sucessor de Bento XVI, teve como base o fato de que o referido possui um histórico de diálogo com grupos protestantes da América Latina e, também, pela proximidade com o Brasil, país este recentemente intitulado pelo New York Times como ‘um laboratório para reverter o declínio do catolicismo’”.
O objetivo, portanto, por trás das indicações, seria “fortalecer a estratégia romana de absorção do protestantismo brasileiro e mundial por meio do ecumenismo. [...] Finalmente, são os evangélicos latino-americanos e ortodoxos os principais alvos da manobra da Santa Sé, iniciada com a escolha do cardeal e jesuíta, Jorge Mario Bergoglio”, considera Johnny Bernardo.
As datas das cerimônias de canonização ainda não foram divulgadas. “Poderá ocorrer no final de 2013”, afirmou o porta-voz do Vaticano, padre Federico Lombardi. Na sexta-feira (5), foi publicada também a primeira encíclica do papado de Francisco, focada na união estável entre homem e mulher.
Johnny Bernardo é pesquisador, jornalista, escritor, palestrante e colaborador do Núcleo Apologético de Pesquisas e Ensino Cristão (NAPEC) e de diversos jornais, como o The Christian Post. Ele é licenciando em Ciências Sociais pela Universidade Metodista de São Paulo. Há mais de dez anos, dedica-se ao estudo de religiões e crenças, sendo um dos campos de atuação a religiosidade brasileira e movimentos destrutivos.
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