Fogo misterioso desaloja famílias no Ramiro - Angola

Quatro famílias, que partilham o mesmo quintal no bairro Agostinho Neto, na zona C da comuna do Ramiro, viram-se obrigadas a passar a noite ao relento, em consequência de sucessivos incêndios supostamente provocados por um fogo estranho.
“Aconteceu, pela primeira vez, na Segunda-feira, por volta das 21 horas, estávamos todos sentados aí a conversar e a fazer outros trabalhos e, de repente, só vimos neste canto da sala um fogo que passou imediatamente para o meu quarto, onde queimou todo colchão”, contou Rui Baião Kalunga de 26 anos de idade, que clamou por socorro de seus vizinhos, tendo estes prontificado-se a extinguir o fogo.
Segundo acrescentou, assim que se apercebeu que o quarto estava em chamas, decidiu dar a volta a casa com intuito de surpreender o actor da queima, pois pensava num possível fogo posto, mas não encontrou ninguém.
O resultado da sua reacção levou-o a reflectir sobre as causas do incidente, ao ponto de não ter encontrado razão suficiente para se desenvolver um incêndio que classificou como sendo de médias proporções. Aliás, Rui Baião fez questão de informar que, por precaução, já não fazia uso de velas.
No fim das contas, o entrevistado avaliou como danos um colchão, uma calças e duas camisas, além de dois lençóis totalmente queimados. Quando a família já parecia refazer-se do acontecimento vivido, no dia seguinte, às 19 horas, foi a vez de seu pai suplicar pela ajuda dos circunstantes para a apagar o fogo que ameaçava consumir todos haveres do seu quarto.
“Estávamos todos na sala a consolar o menino e sua esposa e vimos um clarão no quarto, era novamente o fogo, que estava a queimar tudo que encontrava”, disse o velho José Kalunga de 60 anos de idade, referindo-se a colchão, cobertas, malas e roupas, entre as 32 pertenças que assegurou ter registado como danos imediatos.
A situação começou a provocar um clima de tensão e medo por parte da família, conforme estimou Margarida Jinga de 54 anos, esposa de José Kalunga, que por pouco não pensou transferir os acontecimentos para o âmbito da superstição.
“Eu já não podia pensar noutra coisa”, desabafou Margarida Jinga, poupando-se em pormenores, ao mesmo tempo que sacudia a pressão com um “só Deus sabe!”

Retomando a palavra, seu marido adiantou que sua família não cogitava qualquer desconfiança com investidas de feitiçaria, porque durante a vida toda nunca se tinham recorrido a tal alternativa para cobrir alguma necessidade da vida.
“Entregamos tudo na mão do Senhor”, reforçou as preces clamadas, momentos antes, por sua esposa, tendo igualmente invocado a intervenção das autoridades locais.
José Kalunga reside no Ramiro desde 1991 e disse nunca ter visto ou ouvido falar de um acontecimento igual.

INQUILINO OPTA POR MUDAR
Na Quarta-feira, 20, o fenómeno voltou a acontecer, por volta das 10 horas, e, desta vez, na casa do inquilino de José Kalunga, que, desconfiado de qualquer razão que se prendesse com realidades fora-do-comum, como fez questão de referir, predispôs-se a arrumar o que tinha restado do terceiro incêndio, para arrendar outra residência, longe dessas paragens do Ramiro.
Entretanto, teve de recuar na sua decisão, porquanto, uma hora mais tarde acontecia outra situação do género, novamente em casa de seu senhorio, onde tiveram de entrar todos para estancar o fenómeno inexplicável.
“Eu nunca vi e isso na minha vida, por isso tinha pensado em mudarme com a família para não acontecer o pior”, desafogou Pedro Mendes de 33 anos de idade, apoiado por alguns vizinhos que presenciavam a cena, segundo os quais se tratava de uma perseguição cujo final teria de ceifar a vida de alguém do quintal.
Assustados, o casal Kalunga e seus filhos, que, a partir de Quarta-feira, 20, já haviam decidido pernoitar no quintal, suplicaram aos elementos da administração e à polícia para lhes darem outro espaço.
“Nós pedimos aos chefes da administração do Ramiro, não queremos mais ficar aqui, é só nos darem um terreno”, rogou José Kalunga, que não se predispunha a entrar em sua própria casa, senão acompanhado por alguém.
Quem não reagiu de forma diferente foi um emissário da repartição comunal, ligado ao sector de segurança e defesa da área, que se surpreendeu ao testemunhar o último incêndio do dia.
“Não conseguia acreditar no que via, o fogo surgiu do nada e fomos lá apagar”, informou o agente que se identificou apenas com o nome de Eugénio.
O responsável máximo da esquadra policial do Ramiro, popularmente conhecido com o denominação de Comandante Tomás, dirigiu-se ao local, onde inquiriu as vítimas do fogo sobre as fases que antecederam o sucedido.
Cauteloso, o oficial superior da polícia apontava detalhes de depoimentos ouvidos, enquanto solicitava para passar pelos compartimentos afectados das três casas. Daí a momentos, a equipa policial descartava sussurradamente a hipótese de se tratar de fogo posto, tendo garantido analisar os dados colhidos, para depois apresentar o resultado da investigação.
Por sua vez, Armando Sozinho, em nome da coordenação do bairro e da área social da administração comunal foi encarregado de acompanhar o desenrolar da história e assegurar as vítimas, até ao pronunciamento da administração municipal de Belas, a qual garantiram terem notificado do ocorrido.

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