Fontes no Vaticano confirmaram ao Estado que Francisco ainda não tomou uma decisão sobre o que será feito e espera a conclusão das investigações da Justiça. Mas Jorge Bergoglio não gostou do caso.
O número de acusações contra d. Fernando Panico não é pequeno. Mas, acima de tudo, fontes no Vaticano revelam que é justamente a atuação de uma diocese como negociadora de imóveis que desagradou ao papa.
As investigações foram abertas depois que o bispo foi acusado de ter continuado a cobrar aluguéis das casas de prioridade da diocese, mesmo depois de elas terem sido vendidas. Outra acusação era de que a venda dos imóveis ocorreu sem que os moradores tivessem a opção de compra. O bispo acabou sendo convocado para depor.
O caso chegou até Roma e, em outubro, Panico esteve reunido em duas ocasiões com o papa no Vaticano. Oficialmente, as audiências tinham como meta debater o processo de reabilitação canônica do padre Cícero (1844-1934) e sobre o processo de beatificação de Benigna Cardoso da Silva, mártir da castidade (1928-1941).
Mas um dos temas centrais da conversa foi justamente a cobrança do papa para que Panico desse explicações sobre as denúncias de estelionato e formação de quadrilha. Um primeiro encontro ocorreu com outros participantes, no dia 9 de outubro. Cinco dias depois, o bispo voltou a ser convocado, desta vez para uma audiência a portas fechadas.
D. Fernando, um italiano naturalizado brasileiro, ordenou-se padre em 1971, em Roma. Chegou ao Brasil em 1974 e está à frente da diocese do Crato desde maio de 2001.
Exemplos. Francisco deixou claro que não iria tolerar esse tipo de escândalo e tem coletado uma série de casos que, em sua avaliação, poderiam prejudicar a imagem da Igreja. Há um mês, o Vaticano suspendeu um bispo alemão por seus gastos considerados excessivos. O punido foi o bispo de Limburg, Franz-Peter Tebartz-van Elst, depois que gastou € 31 milhões (R$ 93 milhões) para renovar sua residência oficial.
O papa, desde o primeiro dia de seu mandato, havia deixado claro que queria uma "Igreja pobre para os pobres" e que a função dos religiosos era servir. Elst acabou se transformando em um primeiro teste para o argentino. O caso ainda revela que o pontífice está disposto a punir esse tipo de comportamento, enquanto dá demonstrações de que não vai perseguir bispos por declarações sobre a doutrina.
Em pouco meses, Francisco deu diversas demonstrações de que seu estilo é o de recusar a ostentação e ordenou ao clero que siga o mesmo caminho da simplicidade. Ele criticou os carros usados por padres, optou por não viver no Palácio Apostólico e condenou gastos elevados. Além disso, instaurou regras de transparência das finanças do Vaticano e ordenou uma varredura geral nas contas da Santa Sé.
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