Será que as nuvens e o sol estão simbolizando alguma mensagem divina por meio de tantas imagens chamativas que têm sido vistas?
Recentemente, diversas fotografias compartilhadas em redes sociais chamaram muitas atenções mundo afora para fenómenos visuais envolvendo as formas das nuvens e as manifestações da luz do sol. Não faltou quem procurasse descrevê-las recorrendo a termos como “sinais”, “milagres” ou “avisos”, inclusive com matizes apocalípticos.
Entre as imagens que mais repercutiram, recordamos quatro:
1 – A nuvem em forma de bebê em gestação na França
A fotografia viralizou na internet depois de aparecer no canal de TV France 3 em 22 de Junho de 2018, mas tinha sido tirada em Agosto de 2017 por Laury Moussière, moradora da cidade de Cournon d’Auvergne, no centro da França. Ela mostra nuvens cuja forma lembra o rosto de um bebê no útero materno. Grande parte dos comentários dos internautas está relacionando a imagem com a recente onda pró-aborto em diversos países e, em recorrência, interpretando o formato da nuvem como um “sinal sobrenatural” em favor da vida.
2 – A nuvem em forma de “Espírito Santo” sobre Roma
Há quem veja neste conjunto de nuvens a gigantesca imagem de uma “pomba da paz”, de uma “águia” ou até uma visível manifestação do Espírito Santo. Trata-se de uma foto que circula pela internet há vários anos e cuja autenticidade não foi comprovada. A localização do registro já foi apontada como Jerusalém, Zacatecas (México) e Roma. De fato, o edifício ao lado direito da imagem é a Basílica de São Pedro, no Vaticano.
3 – Os raios de luz em forma de “Cristo Redentor” na Itália
Tirada ao pôr-do-sol no sul da Itália e atribuída a um empresário italiano chamado Alfredo Lo Brutto, de Agropoli, esta imagem apresenta uma figura de luz formada pelos raios de sol entre as nuvens. Suas formas evocam Jesus Cristo, em pé sobre o Mar Tirreno, e foram apontadas por internautas como semelhantes às da estátua do Cristo Redentor, no Rio de Janeiro.
4 – O arco-íris que “envolveu” a basílica mariana da Costa Rica
Aconteceu num sábado, dia da semana dedicado a Nossa Senhora. Era 3 de novembro de 2018 e o local era a cidade de Cartago, perto de São José, capital da Costa Rica, justamente sobre o local em que se encontra a Basílica de “Nuestra Señora de los Ángeles”, a padroeira do país centro-americano. Um arco-íris, como tal, não tem nada de extraordinário: é um fenômeno bastante frequente e perfeitamente natural. O que cativou o público foi a sua “perfeição” e, obviamente, o simbolismo: um arco de luz e cor ornamentando uma igreja dedicada a Nossa Senhora como padroeira de toda a nação.
São milagres?
Não. Não se pode falar tecnicamente em milagre quando existem explicações científicas plausíveis para um acontecimento. É muito comum que elementos da natureza apresentem formas curiosas e inspiradoras, inclusive recordando pessoas. Pode acontecer não só com as nuvens, mas também com flores, com a disposição dos ramos de uma árvore, com os contornos de uma montanha, com as curvas de um rio fotografado do alto… Existe um termo científico para definir o fenómeno pelo qual desenhos abstractos nos dão a impressão de formas reais: pareidolia (do grego para-, semelhante a, e eidolon, imagem, figura).
O uso do termo “milagre” é bastante popular e comum diante de fenómenos que parecem sobrenaturais: na grande maioria dos casos, o uso dessa palavra é bem intencionado, mas precipitado e equivocado como termo técnico.
Milagres são fenómenos cientificamente inexplicáveis, que contradizem as regras da natureza conforme as conhecemos. Os casos em questão, no entanto, são perfeitamente explicáveis pela ciência.
Para que algum fenómeno possa ser oficialmente declarado como de carácter sobrenatural, são necessários criteriosos e detalhados estudos. A Igreja católica segue critérios científicos bastante rígidos para afirmar algum milagre. Os milagres de cura, por exemplo, chegam a demorar décadas até serem reconhecidos. Os fatos precisam ser cuidadosamente estudados por médicos, revisados por cientistas (na maioria dos casos, laicos e até mesmo ateus), expostos às críticas públicas e, só depois de feitos todos os estudos científicos, a própria Igreja faz a análise teológica mediante o trabalho das suas comissões de especialistas em teologia. Aliás, você pode conhecer um pouco mais sobre a delicada avaliação de supostos milagres por parte da Igreja clicando no seguinte artigo sobre os 7 critérios para se declararem milagrosas as curas que acontecem no santuário de Lourdes:
Então são sinais?
Entendendo-se por “sinal” aquilo que contém um “significado”, certamente não há erro em dizer que são sinais naturais – ou seja, estão “previstos” na ordem natural das coisas e, por mais que pareçam inusitados ao nosso olhar, significam primariamente a própria existência dessa ordem natural. E isto já é grandiosamente instigante: existe uma ordem natural em vez de mero acaso.
De fato, não é apenas o sobrenatural que pode nos impactar: a natureza mesma, incluindo a nossa capacidade natural de admirar o belo, também tem muito a nos “dizer”, dado que o fascínio da natureza, em si mesmo, já nos remete a uma das perguntas-chave da filosofia e da ciência: qual é a origem de tudo isso?
Mesmo um acontecimento tranquilamente explicável pela ordem natural das coisas pode servir como “gatilho” para reflexões importantes.
O cristão acredita que Deus nos fala através de sinais, sejam naturais, sejam sobrenaturais, e que Ele sempre deixa à liberdade de consciência de cada um a decisão final de como interpretá-los. Os próprios ateus, aliás, costumam enfatizar que as tragédias são uma “prova” de que Deus não existe, apelando para a sua “fé” na inexistência de Deus com base em sinais passíveis de interpretações pessoais (que, aliás, cientificamente falando, não são válidos como provas).
Para quem crê na inexistência de Deus, tudo é e será sempre mero acaso e falta de sentido. Para quem acredita em Deus e no sentido sobrenatural da existência, tudo é e será sempre um grande milagre, testemunhado por uma abundância de sinais repletos de sentido.
0 Comentários
Deixe aqui o seu comentário...lembre-se de voltar para ler a resposta...