Jesus estava mais para Che Guevara que para Madre Teresa, defende autor muçulmano

Jesus estava mais para Che Guevara que para Madre Teresa, defende autor muçulmanoTodos os anos surgem dezenas de livros sobre Jesus. Muitos deles não se atem aos relatos bíblicos e buscam apresentar algo “diferente” ou “inédito”. A mais nova obra a suscitar polêmica é Zealot: the life and times of Jesus of Nazareth [Zelote: a vida e os tempos de Jesus de Nazaré]. Parte do sucesso se dá por causa de uma entrevista dada pelo autor, o iraniano Reza Aslan, à rede de TV Fox.
Lançado há um mês nos Estados Unidos, lidera pela terceira semana seguinte a lista dos mais vendidos do The New York Times e da Amazon. Deve sair no Brasil apenas no início de 2014.
O autor é um estudioso de religiões e professor de escrita criativa na Universidade da Califórnia. O grande diferencial é o fato de ele ser muçulmano, o que irritou muitos cristãos. Mas como polêmica sempre vende, ele desfruta do sucesso alcançado, mesmo não apresentando nada de novo.
Sua tese é que Jesus não foi um pacifista. Estava mais para um revolucionário que desejava expulsar os romanos da Judeia, criar um reino de Deus na Terra e sentar em seu trono. O argumento é antigo, que esteve em alta pela ultima vez nos anos 1960, impulsionado pelo movimento da Teologia da Libertação, que misturava elementos de cristianismo e marxismo. Em resumo, Jesus seria mais parecido com Che Guevara que com a Madre Teresa de Calcutá.
Aslan optou pelo termo “zelote”, para descrevê-lo. Trata-se de uma palavra derivada do aramaico e dava nome a um movimento que realmente existia nos tempos de Jesus. Era um movimento político judaico que defendia o uso da força para que o povo da Judeia expulsasse os romanos de seu território.
grafite do jesus guerrilheiro Jesus estava mais para Che Guevara que para Madre Teresa, defende autor muçulmano
Jesus expulsa os vendilhões do templo. Um novo livro diz que ele não defendia a paz, mas a espada (Foto: Rischgitz/Getty Images)
Segundo o livro, Jesus compartilhava algumas das ideias igualitárias dos zelotes e, assim que se estabeleceu numa vila de pescadores em Cafarnaum, começou a procurar seus discípulos “entre aqueles que se viram lançados à margem da sociedade, cujas vidas tinham sido interrompidas pelas mudanças sociais e econômicas que ocorriam por toda a Galileia”.
Muçulmano, o autor não reconhece a divindade de Jesus, mas o define como “um camponês analfabeto que entra em Jerusalém como o tão aguardado Messias – o verdadeiro rei dos judeus – que veio libertá-los da escravidão.”
Usando trechos isolados das narrativas dos Evangelhos, ele costura uma trama que mistura religião e política. Mais tarde, os relatos dos apóstolos deram inicio ao “longo processo de transformar Jesus de um revolucionário nacionalista judeu num líder espiritual desinteressado de questões terrenas”. Assim teria surgido o cristianismo.
O alemão Herman Samuel Reimarus (1694-1768) deu início ao movimento que se dedicava a explicar quem foi o “Jesus histórico”, o judeu que se transformou no Filho de Deus, cultuado pelos cristãos. Do outro lado, as correntes teológicas tradicionais se preocupavam em preservar o “Cristo da fé”, o Jesus da religião.
Até o século XX, a procura pelo Jesus histórico pouco revelou. Os teólogos alemães Martin Dibelius e Rudolf Bultmann reiniciaram essa busca. Eles estabeleceram critérios objetivos para determinar o que era histórico e o que não era nos relatos bíblicos. A ideia era acabar com os “mitos”. Ignoram-se os milagres e se atém apenas o que pode ser descrito pelas ciências naturais.
No início de nosso século, tem se construído o que é chamado “a terceira onda”, um ressurgimento que inclui livros, filmes e programas de TV. São utilizados métodos históricos e racionais, incluindo a análise crítica dos Evangelhos, a pesquisa arqueológica e o estudo do contexto histórico e cultural em que Jesus viveu. Não se trata apenas de um livro a mais sobre o assunto, “Zelote” pode determinar o início de uma tendência a mais, que tenta se anular tudo (ou quase) que se sabe sobre Jesus há dois mil anos.
Qual o futuro? Com cada vez mais igrejas e denominações relativizando os ensinamentos que deram sustentação ao cristianismo por séculos, ele não parece muito promissor. Com informações Revista Época.

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