Que Igreja para a primeira geração que gagueja quando se pergunta de onde é

O mundo mudou muito ao longo das últimas décadas e o modelo de Igreja dos anos 60, centrado na paróquia, já não se enquadra na realidade da “primeira geração que gagueja quando se pergunta de onde é”, explica D. Manuel Clemente.
O Patriarca de Lisboa esteve na conferência de abertura da Conferência Nacional de Associações de Associações de Apostolado dos Leigos (CNAL), sob o tema “Cultura do Encontro na Igreja e no Mundo Contemporâneo”. O encontro juntou várias centenas de pessoas, de vários movimentos e de todo o país, em Coimbra.
Recorrendo inúmeras vezes à sua experiência pessoal, de jovem católico de Torres Vedras, envolvido no movimento escutista e na Acção Católica, D. Manuel Clemente traçou o percurso de mudança social que levou a que a Igreja, actualmente, não possa depender da centralidade da paróquia na vida dos fiéis.
Actualmente, explica o presidente da Conferência Episcopal Portuguesa, cabe aos clérigos perceber que tudo mudou: “As pessoas que ainda aparecem mais vezes na paróquia, ou que estão empenhadas em serviços paroquiais, vivem num mundo muito transversal. Ao mesmo tempo estão em conexão com outros movimentos, com outras pessoas, com outras paróquias, e portanto hoje é muito transparoquial, transdiocesano. Temos de ter isso muito presente, estamos ali, é um momento importante, mas é um momento entre outros que são vividos noutro lado, a começar pela família.”
Nesta realidade, o papel dos leigos torna-se ainda mais importante. Numa Igreja que D. Manuel descreve como “uma cadeia de encontros”, os leigos são “quase tudo”.
“O que compete aos clérigos é proporcionarem estes encontros. Mas não se pode ser leigo se não estiver integrado no povo. Seja na realidade familiar, empresarial, paroquial ou nisto tudo ao mesmo tempo. O Cristianismo em si mesmo é um encontro. Se eu não estou articulado com outros em termos de partilha de vida, de avanço num projecto, não sou Cristão, porque Cristo é um convite constante ao encontro. Não é possível ser cristão de outra maneira.”
Para D. Antonino Dias, presidente da Comissão Episcopal do Laicado e da Família, os leigos desempenham cada vez mais um papel de destaque, mas não ocupam ainda o lugar que o Concílio Vaticano II tinha sonhado para eles: “Luta-se por isso. Mas é um pouco lento. Gostaríamos que os leigos tivessem consciência de pertença à Igreja e que têm lugar próprio, que ninguém lhes tira, e têm de o exercer. A Igreja não está verdadeiramente formada e não vive plenamente se não há um laicado consciente e formado e dinâmico, que é aquilo que também aqui se nota.”
“Há vontade de mais ainda, e precisamos de mais”, remata o bispo.
E é precisamente com esse “mais” que sonha a organização da CNAL. Francisco Noronha de Andrade realça que uma maior intervenção na vida da Igreja mas, sobretudo, na sociedade, é um dos frutos que se espera colher deste encontro que decorreu em Coimbra. “Temos de lutar por isso.”

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