A quinta da
Regaleira, em Sintra, é uma mansão filosofal, criada entre
1900 e 1912, pelo seu primeiro proprietário, António Augusto
Carvalho Monteiro (Rio de Janeiro, 1848, Sintra, 1920), e pelo
arquitecto e cenógrafo italiano Luigi Manini, o mesmo do Palace
Hotel
do
Buçaco. O palácio e a capela neomanuelinos apresentam, ao contrario
do Buçaco, também neomanuelino, uma simbólica esotérica relativa
à tradição mítica portuguesa e a algumas correntes iniciáticas
tradicionais.
Uma das
características mais evidentes deste conjunto arquitectónico é um
neotemplarismo cujos símbolos, como as cruzes templárias, estão
presentes no fundo de um monumental poço iniciático e na capela (a
qual tem uma cripta, cujo chão é um maçónico pavimento
mosaico). Essas cruzes templárias revelam, juntamente com outras
referências maçónicas, uma filiação espiritual relativa às
Ordens do Templo e de Cristo, recriadas, eventualmente, num contexto
maçónico-templário, de que e um exemplo notável o delta luminoso,
ou triângulo radiante, símbolo do Grande Arquitecto do
Universo, sobreposto a uma Cruz Templária.
Contudo,
permanece o enigma quanto à determinação de uma eventual filiação
iniciática, especifica desta quinta e do seu proprietário o qual
era um amante de Camões e possuía, na sua biblioteca, hoje em
Washington, textos sobre o sebastianismo e o Quinto Império. Apenas
se pode referir, como hipótese, a provável existência de um
pequeno circulo esotérico tradicional, ao qual pertenceriam Carvalho
Monteiro, seu pai, e o amigo de ambos D. Fernando II, maçon (foi
candidato a grão-mestre do Grande Oriente Lusitano Unido) e
rosa-cruz.
Se
é certo que, até ao momento, não existe nenhuma prova documental
que permita associar o poeta da Mensagem à Quinta da Regaleira e aos
seus proprietários, a verdade é que muito daquilo que ele escreveu,
quer sobre a forma de verso, quer sob a forma de ensaio, tem a ver
com o universo simbólico, mítico e esotérico da criação de
Carvalho Monteiro e de Luigi Manini (paganismo, tradição
portuguesa, cristianismo gnóstico, etc., existindo, inclusivamente,
uma pequena casa egípcia , com Íbis). Além do mais, seria
pouco provável que um homem tão informado sobre o esoterismo, como
o era Pessoa, e tão ligado ao meio intelectual da época
desconheces-se a Regaleira, é de referir que, segundo informação
de descendentes, o filho de Carvalho Monteiro,
Pedro
Monteiro, proprietário da quinta de 1921 a 1945, conhecia Fernando
Pessoa. Se, eventualmente, Fernando Pessoa conhecia a Regaleira,
sobretudo a sua dimensão simbólica e mítica, não poderia deixar
de a considerar como uma Estalagem do
Assombro,como disse no poema
Iniciação.
Verifica-se
também uma coincidência de universos quanto ao templarismo-maçónico
( eu
sou mais do que maçon, eu sou templário, escreve Pessoa no poema S.
João ) e sacerdotal (temos espadas porque Somos cavaleiros, vestes
de rito porque somos sacerdotes, capuzes de velar porque somos
ocultos), presente nas especulações ensaísticas e poéticas
pessoanas (serão apenas especulações?). Refira-se que ele escreveu
rituais dramáticos,expressão do poeta salientada por Teresa Rita Lopes, para a Ordem
Templária de Portugal, templarismo presente na Regaleira, no
palácio, mas sobretudo na capela e na sua cripta (com chão ritual )
e no fundo do poço. Mas Pessoa também escreveu alguns versos que
nos fazem evocar altos lugares da Regaleira.
Será
o grande templo antenatal, a Gruta de Leda, ou o poço
iniciático ? Terá a Ordem do Subsolo a ver com o poço e as
galerias subterrâneas? E a Ordem Sebastica terá a ver com o
sebastianismo do proprietário da Regaleira?
A
titulo de exemplo de uma eventual relação entre a simbologia
presente na Quinta da Regaleira e a sua própria geografia e alguns
temas simbólicos subjacentes à poesia de Pessoa, atente-se nos
seguintes versos (sublinhados para realçar):
Conta
a lenda que dormia
Uma
Princesa encantada
A
quem só despertaria
Um
Infante, que viria
Dealem do muro da estrada [...]
E
vencendo estrada e muro, chega onde em sono ela mora [...]
E
vê que ele mesmo era
A
Princesa que dormia
– poema
Eros e Psique,do ritual do grau de Mestre do Átrio da Ordem Templária de
Portugal.
Não
dormes sob os ciprestes,
Pois
não há sono no mundo
[...]
O corpo é a sombra das vestes
que
encobrem teu ser profundo
[...]
naEstalagem do Assombro... [...]
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