O professor Francisco Borba, coordenador do Núcleo Fé e Cultura da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP), explica o sucesso latino das religiões evangélicas, principalmente das denominações pentecostais, pela facilidade que essas têm em fazer uma ponte entre o místico e o material de forma mais real e concreta que a Igreja Católica.
Segundo o especialista explicou em entrevista publicada no portal IG nesta segunda-feira (1o), no pentecostalismo, Deus é capaz de provocar mudanças concretas e materiais na vida do fiel, caso ele se devote. Já no catolicismo, a mudança depende do indivíduo, que em Deus encontra um aporte. “Para a Igreja Católica, o que muda a sociedade é o comportamento dos cristãos, a mudança não vem de Deus”, afirmou ele analisando do ponto de vista teológico.
A reportagem afirma ainda que a visita do papa Francisco ao Brasil para participar da Jornada Mundial da Juventude (JMJ) no Rio de Janeiro (RJ) estaria ligada a essa necessidade dos católicos de aproximar a Igreja dos debates do povo, aumentando assim sua relação com o combate à pobreza e os problemas sociais, além de tentar participar dos debates sobre questões como a legalização do aborto e o casamento gay.
Segundo os especialistas, o catolicismo precisa deixar de ser uma religião apenas declarativa e se tornar uma prática e um compromisso real entre seus fiéis.
O padre Pedro Gilberto Gomes, professor da Universidade do Vale do Rio dos Sinos (Unisinos), explicou que “quando você é apenas declarativo, você pode mudar de religião de acordo com o momento em que está vivendo, em busca de respostas mais rápidas e concretas”.
O professor Borba exemplifica esse caráter oral do catolicismo com o fenômeno chamado “cristianismo popular”, que, segundo ele, em grande parte, se abriga na Igreja Católica. O “cristianismo popular” é marcado por fraca influência dos dogmas do Vaticano e uma série de sincretismos (fusão de doutrinas de diversas origens), que não necessariamente implicam em uma fidelidade à Igreja Católica. “Na falta de outro espaço religioso onde essa religiosidade possa se manifestar, as pessoas vão para a Igreja Católica. Rapidamente, com o surgimento de novos espaços, elas abandonam o catolicismo”, afirmou o coordenador do Núcleo Fé e Cultura.
Borba lembra, que no nosso país, “muitas vezes, o reconhecimento de católico é usado socialmente. Apenas para deixar claro que não se é um agnóstico”. No entanto, isso não garante um envolvimento com a religião citada.
Assim, a declaração como católico não necessariamente está relacionada com práticas religiosas e com compromissos reais entre os fiéis.
O último censo feito pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) em 2010 demonstrou uma queda na população que se considera católica no Brasil: 64,6%, em 2010, contra 73,6%, registrado em 2000. Em contrapartida, a proporção de fiéis evangélicos cresceu de 15,4% em 2000 para 22,2% em 2010. No Brasil, esse êxodo da Igreja Católica não é acompanhado por uma evolução significativa de ateus e agnósticos, como acontece nas populações da Europa.
Além da abstração e distanciamento, outro problema a ser driblado pelo papa Francisco são escândalos, como os casos de abusos sexuais envolvendo padres e bispos, que ferem a credibilidade da religião milenar da qual ele é o líder.
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