O que são sonhos lúcidos

     Trata-se de sonhar, mantendo a consciência de que tudo ali é um sonho. Em outras palavras: acessar o estado mental dos sonhos, com a capacidade de reflexão, sabendo que aquela experiência é meramente um sonho próprio. 
      No sonho lúcido, deixa-se de estar apenas "assistindo um filme" que talvez será recordado ao despertar, para viver toda essa experiência, mantendo a capacidade de raciocínio, memória e percepção da estrutura do sonho. 
Todos nós sonhamos quando dormimos uma boa noite de sono. São de 4 a 6 ciclos que se repetem, contendo as mesmas fases. Cada um desses ciclos contém o que se chama fase REM(rapid eye movement - movimento rápido dos olhos) e é nessa fase que nossos sonhos são mais intensos.
     
Os registros em laboratórios do sono, as literaturas das pesquisas efetuadas, divulgadas até agora, apontam para  presença de ocorrência dos sonhos lúcidos nos últimos ciclos do sono. São as fases REM tardias. Em que o período de sonhos mais intensos é maior. Significa que numa noite de sono, é preciso dormir mais do que 6h, para começar a atingir as melhores fases do sono e ter chances de ficar consciente enquanto sonha.


 Vários métodos de indução como o MILD, WBTB, CAT entre outros, se aproveitam desse conhecimento. Orientam para o despertar após a 6h de sono e a continuação do sono, com o objetivo de ao voltar a dormir, estar mentalmente mais apto para acessar o sonho de modo consciente.


   Os monges tibetanos praticam sonhos lúcidos há séculos, enquanto no ocidente, alguns registros esporádicos sobre as experiências foram se acumulando. O primeiro a usar o termo foi Van Eden em 1913, mas em 1867 o professor e marquês de Saint Denys já realizava auto-experimentações e por mais de 20 anos, anotou suas incursões oníricas, sempre buscando aprimorar essa habilidade.

A partir da década de 70, o estudo dos sonhos lúcidos fincou raízes como área de pesquisa científica. Sua comprovação em laboratórios do sono, aconteceu a partir dos estudos de Stephen LaBerge pela Universidade de Standford(EUA) e Keith Hearne pela Universidadde de Hull(Inglaterra). 


      O crédito pela comprovação, ficou com LaBerge, o primeiro a publicar perante a comunidade científica, as conclusões de seus estudos sobre os sonhos lúcidos. A primeira evidência veio com o doutor Hearne, no qual o voluntário Allan Worsley foi a primeira pessoa a conseguir se comunicar por meio do movimento de seus olhos, enquanto sonhava.


Stephen LaBerge, Ph.D, foi o primeiro pesquisador a comprovar cientificamente, perante a comunidade científica a existência de sonhos conscientes.



     Atualmente as pesquisas seguem mais intensas em centros como a Universidade de Heidberg, o Centro do Instuto de Saúde Mental de Mannhein, ambos da Alemanha; no Brasil, com Sidarta Ribeiro e Sergio A. Mota Rolim, pela Universidade Federal do Rio Grande do Norte, Ursula Voos, Alan Hobson, Romain Holzmann, também de universidades e centros de estudos da alemanha. LaBerge e novos pesquisadores pela Universidade de Sandford e outros centros.

Todas essas pesquisas estão gradualmente remodelando a maneira de se encarar o ato de sonhar. Mas afinal, qual a utilidade de poder controlar e ficar consciente durante os sonhos? 
    Assumir o controle do sonho é só a lasca da pontinha do iceberg. A grande conquista está em conseguirmos desenvolver a consciência no estado mental dos sonhos. É aí que as atuais grandes pesquisas caminham. 


Desenvolvimento de habilidades motoras, solução de problemas, criações artísticas monumentais,  auxílio no tratamento de psicoses, controle de pesadelos... a lista está longe de uma limitação.

    Estamos conseguindo acessar nosso cérebro num estado diferente da vigília. Quando estamos despertos ele funciona de uma maneira, mas enquanto sonhamos, podemos presenciar situações que não acontecem no estado desperto. Nosso pensamento lógico cede espaço para um turbilhão de criatividade e conexões diferentes. 

    Os sonhos são fontes de grandes descobertas ou soluções para problemas científicos, bem como criações artísticas magistrais: Elias Howe com a revolução na indústria têxtil, Mendelev com a tabela periódica, Kekulé com a cadeia de benzeno, Mary Shelley com Frankenstein, Paul McCartney com Yesterday... o sonho que salvou o filósofo Russell  de cometer suicídio, os três sonhos numa noite de Descartes que impactaram por séculos no pensamento ocidental!... Que frutos podemos almejar ao obtermos livre acesso, num estado tão poderoso da nossa mente? A própria consciência pode ser alvo de intensos estudos...


 Descartes produziu assombroso impacto sobre o modo de pensar ocidental. Num ensaio relatou que seus 3 sonhos, numa noite, em 1619, foram capazes de revelar para ele a base de uma nova filosofia, uma forma de conhecer a verdade que eventualmente o levaram ao método científico.

      De concreto até agora, temos as pesquisas referentes ao aprimoramento das habilidades em atividades que exigem coordenação motora. Mas são pesquisas iniciais. 

    Particularmento, estou muito curioso com relação a alguma possível contribuição no tratamento de doenças relacionadas ao eixo “psico-neuro-imuno-endócrino”. Também há uma linha de pesquisa que relaciona possível auxílio no tratamento de algumas psicoses, como a esquizofrenia.

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